18 de setembro de 2020

Da Cascata até a Prata - uma caminhada sobre os trilhos

      No último feriado, de 7 de setembro, resolvemos fazer um trekking pelo ramal ferroviário da Bauxita, um trecho entre as cidades de Poços de Caldas, MG e Águas da Prata, SP. Para entender melhor, o Ramal de Caldas, nome oficial, foi criado em 1886 e pertenceu a antiga Companhia Mogiana de Estrada de Ferro. 

                No entanto, em 1976 os trens de passageiros foram suprimidos, restando apenas o transporte de minério de alumínio, que é carregado na Estação da Bauxita, uma estação antes de Poços de Caldas, daí o nome do ramal, como hoje é conhecido. 


                                                                            

 

                    Remontando, nosso ponto de partida foi da Estação Cascata, cujo, povoado é homônimo a estação, e dali seguimos os trilhos no sentido à esquerda de quem está parado na plataforma, de embarque e desembarque, do velho edifício.      

             

                                       


     

            Vale ressaltar essa informação, pois a estação não possui nenhuma identificação, e pessoas com pouca experiência no local podem fazer o trajeto inverso. 




            Ao passo que, a velha estação vai ficando para trás, aos poucos, a paisagem vai dando indícios que será um passeio lindíssimo e cheio de surpresas a cada nova curva, o que de fato acontece ao longo de todo percurso. Como estamos descendo a Serra da Mantiqueira, nosso trajeto é todo sobre os trilhos da ferrovia que margeiam a Serra.  


 



     
                          Para situar acerca do trajeto, do lado esquerdo temos toda a encosta e do lado direito um desfiladeiro com um grande mirante, de tirar o folego. Ao longo da descida, somos presenteados com um vista incrível que se divide em fazendas centenárias e o vale paulista.  



                                                                                                                        


Contudo, pude observar algo que me chamou a atenção, a quantidade de pessoas que fazem esse percurso mulheres e homens, adolescentes, adultos e pessoas de mais idade. O que, de fato, concretizou minhas impressões de que o local é agradável a todos. 




                    Foram 15 km descendo a Serra, passando por um túnel, o viaduto do Tajá, que é a cereja do bolo, ainda as ruínas de uma antiga estação e também uma cachoeira, a Cachoeira das Sete Quedas, haja vista o calor, o banho gelado vale muito a pena. 











                                                 No final, chegamos na estação Águas da Prata e não posso negar que os pés de todos integrantes estavam moídos, mas as máquinas fotográficas e os celulares estavam repletos de imagens, a mente plena e o coração todo massageado   cheio de boas recordações. Todo o trajeto é marcado pela beleza, pela diversão, parceria e alegria.

É sem dúvidas, uma celebração à vida e às amizades. 


















A imagens desse post são de @leo19figueiredo, @leite_mg e @andre_gehringer

estiveram também na trilha: @ le_fazzio, @erancoletta, @fravio23, @igoresende86, @efgoyas, @pauloreid. 

Agradecimento especial a @teotonio82

11 de novembro de 2016

CÁRCERE PRIVADO, UMA ESTAÇÃO PRESA NO SEU DESTINO

Um prédio de 1948, patrimônio ferroviário que um dia trouxe e levou riquezas sobre trilhos, hoje está abandonado, incinerado, degradado, mantido em cárcere privado.


Por uma fresta de uma porta fechada com correntes e cadeado, conseguimos espionar seu interior, o vazio é dividido com os destroços do telhado que veio abaixo com o incêndio. Imaginamos seu tempo áureo, cujo local impulsionava o comércio do pequeno povoado, construindo amores e paixões, esperanças e desilusões, num vai e vem da velha Maria-Fumaça.  


    O sentimento agora é de consternação. Se nada for feito de imediato, seu fim será inevitável, e esse belo edifício fará apenas parte do passado e dos livros de história.



      Antigamente, a pequena estação ficava em um local privilegiado, lugar de destaque para os que passavam na estrada de acesso ao interior. Hoje, devido à duplicação da BR, uma grande faixa de terreno estabeleceu entre a estrada e a estação; e, em seus entornos, outros edifícios foram construídos deixando-a cada vez mais isolada. Este afastamento visual, aliado à falta de interesse em preservação, fez com que a degradação se acelerasse. 
       Para os que sabem quem ela existe, basta percorrer a linha férrea que corta o município de Ibaté e que ainda é usada para o transporte de cargas e encontra-la. Para os que não sabem da sua existência, ao vê-la assim, pode causar os mais variados sentimentos, desde indignação à indiferença. 


    
Desde quando passei a fotografar esses locais, sempre ficam as perguntas: Onde isso vai parar? Quem poderia fazer algo para reverter a situação? E se outra função lhe fosse dada? Acredito que as respostas estejam tanto no Poder Público quanto no privado. 



                      Meu papel é o de expor,  denunciar através da fotografia, mostrar que o abandono ali existe.
A quimera seria ver tudo voltar a pulsar, com direito aos trens de passageiros, sem a pressa dos dias atuais, valorizando a cultura, o patrimônio histórico e os antigos hábitos. 


Ainda há tempo para corrigir!


27 de abril de 2014

Igrejinha do pasto de Indianópolis


"A igrejinha do pasto é mal assombrada!" silêncio... "ela não gosta de visitas..." esse foi o comentário de um morador quando perguntamos onde ficava a tal capelinha, uma maneira sábia de afastar os curiosos e supostos vândalos para assim tentar manter de pé a velha igrejinha.


A cidade de Indianópolis - MG é um dos polos históricos mais importantes do Triangulo Mineiro, originária da aldeia de Santana do Rio das Velhas, foi no passado um local estratégico para a estrada real do Anhanguera. No princípio teve o domínio dos padres jesuítas, depois pelos índios Bororós e por fim pelo homem branco.






Além de prédios históricos como a matriz de Sant'Ana - 1844, 
a igreja de Santa Rita - 1859 a original, e 1959 a atual- 
e a Fazenda Registro (onde se cobravam os impostos para coroa), 
lendas e mistérios 
alimentam o imaginário e 
o cotidiano desse charmoso município das minas gerais.



No alto da colina, do velho ponto de paragem dos tropeiros que vinham do oeste, estabeleceu-se um local de devoção. Um cruzeiro-mor fincado donde pedras e latas d'água eram levadas sob as cabeças em sinal de sacrifício.
Pedidos de chuvas para amenizar a estiagem 
do cerrado mineiro.



Como tempo foi erguido ao lado do velho cruzeiro uma singela capela
de construção simples,
com telhado de duas águas e
tijolos de adobe,



no seu interior 
piso elevado com réguas de madeira em dois planos
vão a um altar de linhas retas. 
O altar recebe a meia parede uma imagem de rara beleza para a nossa região. 
Uma pintura estilo rococó,
onde a figura principal faz
alusão a Santa Cruz.
Ao seu redor nuvens rebuscada é ladeada por anjinhos. Nas extremidades,
 vasos em flores completa o afresco.






Na estrada de terra que leva a igrejinha, depois de uma forte subida
lavouras de café e soja vão margeando nossa aventura.
Bem no meio da soja em tons verde e amarelo prestes a ser colhida, eis que surge a tal capela.
De longe ela não chama muita atenção, pode ate passar desapercebida.
Na parede caiada a tonalidade ganhou ao longo do tempo matizes que se camuflam com
a paisagem, do cruzeiro pouco sobrou.
Apenas uma parte pontiaguda ainda aponta para o céu
como num gesto de clemência.


  
Quanto mais perto vamos chegando mais bela se faz,
porem o tempo e o abandono dá uma noção que se nada for feito logo seu fim 
será trágico.
Todo a sua estrutura está inclinando para o lado, quase que tombando,
como se o vento a convida-se a repousar no chão.



Lá dentro parte do reboco caiu e a pintura mural se desfez restando
apenas parte dos seus traços.
O telhado vai se abrindo em frestas
permitindo que feixe de luz solar entrem e aqueça seu interior.
O silencio é absoluto,
sendo quebrado apenas pelo vento que dança em meio as hastes da soja.



No horizonte uma nuvem carregada vem surgindo com uma forte e abençoada chuva,
algo que nos faz registrar a igrejinha com certa rapidez.


Percebemos que ela sempre dá um jeito de expulsar os intrusos,
cumprindo a fama que não gosta de receber visitas,
onde desconhecidos não são bem vindos!

6 de agosto de 2013

Nossa Senhora da Conceição de Jaguara


As vezes me acho um Indiana Jones
do cerrado (rsrs...)
sempre a procura de tesouros; Porém, minhas joias estão nas coisas simples, 
em festas populares,
nas tradições rotineiras, em ruínas da história.
Neste último final de semana estive em uma pérola da arquitetura religiosa.
Infelizmente não a encontramos nem se quer citada nos livros escolares
ou muito menos divulgada nas redes sociais. Acredito que pra muitos saber sobre ela não faria diferença no curso da vida.
 


 






 
 Mas pra mim não!

A primeira vez que ouvi falar dela, foi num livro chamado "História de Igrejas Destruídas" de Eduardo Verderame, editora Hedra. Ali descobri que uma igreja cem por cento atribuída ao mestre Aleijadinho, estaria em ruínas numa cidade próxima a capital mineira. Minha reação foi descobrir em que estado essa igreja poderia estar e como conseguiria conhecê-la.

Como moro a mais ou menos quinhentos e oitenta quilômetros de distância, fui deixando de lado essa possibilidade de encontro, mas nunca me esqueci.



 

 
Matozinhos fica a quarenta e sete quilômetros de Belo Horizonte, uma cidade pequena, que possui vários atrativos turísticos como grutas recheados de pinturas rupestres.
Para mim,
apenas a centenária fazenda com a igreja de Aleijadinho me interessava,
 
  
 

 Dificuldades não tive em encontra-la, pois vários sites nos revelam sua localização. O "Vínculo da Jaguara, uma espécie de estabelecimento rural com várias fazendas agregadas, tendo como sede a
Velha Jaguara
possuidora da imponente igreja, fica a vinte quilômetros a nordeste do município.
Para chegar temos que tomar como guia as placas de um hotel rural desativado homônimo á fazenda. Por estradas de terra
vamo-nos embrenhando no cerrado, até chegar ao hotel com suas casinhas de tijolos
aparente, ali seguimos mais quatro quilômetros a diante, sempre na estrada principal onde
a tendência é descer pelo terreno íngreme.
 
 

 
Toda viagem compensa pela belíssima visão que
temos, no meio do nada eis que surge o
belo templo,
fascinante!
Estupendo!

 


 
 
Devido a descuidos do passado cujo antigo dono doou alguns mobiliários e estrutura ás igrejas de Nova Lima e sem o telhado
a destruição e ruína seria inevitável.
Não descobri nada que comprovasse a autoria do artista barroco
devido o estado de degradação da igreja,
porém tanto o óculo, uma espécie de janela no alto da fachada e o pórtico esculpido em madeira, demonstram uma habilidade e primor do artífice.
 
 
 
 
Hoje estruturas metálicas tentam conservar
e adiar sua queda total;
Porém eu acredito, 
que se nada for feito, esse mal acontecerá,
e tesouros como esse não poderão mais fazer parte de aventuras.
Apenas de relatos!